13/10/2016

A permanência da foto em papel

Ali no cantinho você vê a mais recente foto que tiraram de mim e que foi impressa em papel, agora em setembro. Como se pode notar, é uma foto 3x4 para documento (meu futuro RG amapaense). 

Antes disso, não faço a menor ideia de quando eu mandei imprimir uma foto pela última vez (a versão em papel das fotos da exposição As Tias do Marabaixo, há dois anos, foi uma encomenda do Amapá Shopping Garden). Coincidiu também que todas as fotos que tenho feito em Macapá, sejam registro de shows a pedido dos artistas, sejam os ensaios da campanha Vamos Sonhar Juntos, foram entregues em CD ou pen-drive. 

De modo que me impressionou a reação de algumas pessoas de fora do Amapá que haviam se inscrito na campanha e que se mostraram bastante decepcionadas ao perceber que a entrega do material seria em meio digital - o que, aliás, já havia sido informado a elas no próprio momento da inscrição. Não tenho como dizer ao certo, mas imagino que isso explica boa parte dos cancelamentos que tive ao tentar estender a campanha para o Pará, Maranhão, Paraíba, Alagoas e Mato Grosso. A uma pessoa que realmente se decepcionou ao saber, falei que, como eu estava em viagem, era muito mais simples ela mesma pegar o CD e mandar imprimir as fotos onde ela quisesse, pois em todos esses locais (afora Belém) eu não conhecia nenhum laboratório, sem contar que teria que ao menos lhe repassar os custos da revelação, impressão e eventualmente moldura. 

É curioso pensar na permanência da foto em papel, em ao menos dois sentidos da palavra permanência. Primeiro, pelos exemplos citados - e também pelo que vejo em fóruns de fotografias, sites de fotógrafos de casamentos etc etc. -, as pessoas realmente querem contar com um objeto - assim como o livro impresso ou mesmo os discos de vinil (pra mim, eternamente elepês) que chegaram a sair de linha, para voltar como objeto de culto. (Enquanto isso, na minha vida pessoal, tem imperado cada vez mais o menos é melhor - em breve, tudo o que possuo deverá caber em uma mala e uma mochila, e a mochila apenas porque não dá pra despachar notebook e câmera junto com as outras bagagens que são jogadas no avião). 

O segundo sentido tem a ver com as condições em que é conservado esse material que se está imprimindo hoje. Vamos pegar o exemplo de uma foto que já pintou aqui pelo blog, a que apareço com minha mãe (e que poderia ser intitulada A Descoberta da Fotografia). É uma foto de 1971, no máximo começo de 1972. A original está num velho álbum de retratos, daqueles com páginas cheias de cola e folhas transparentes cuja função era evitar que as páginas colassem umas nas outras. Tanto essa foto como a primeira que fiz na vida, em 1980 (e que você viu em nosso post inaugural) simplesmente não podem ser tiradas do tal álbum sob pena de se desfazerem, literalmente, pois o fundo do papel já está colado no álbum. 

- Ah, Fabio, nem vem, tu tá falando de fotos de mais de 36 anos - você pode dizer. 

Ok, vamos então pensar em fotos mais recentes, como a do Chico Buarque com Luis Fernando Verissimo, de 1999, ou as do meu almoço de formatura, que aconteceu em 2001, que foram mantidas naqueles pequenos álbuns no formato 10x15, com propaganda das marcas de filmes (que eu chamo de albinhos). Pois bem, em todos os albinhos o plástico já está 'pegando' nas fotos. Claro que, diferente do material de quase quatro décadas atrás, com essas fotos de 'apenas' 15 anos ainda é bem fácil soltar o plástico sem danificar a imagem. Mas por quanto tempo isso ainda será possível? Apenas para comparar, encontrei no final de semana várias fotos da última viagem que minha mãe fez à Europa, em 2002, mantidas num envelope de papel (olhaí a dica!) e que não apresentam problema algum.

Enfim, parece que apostar em cola e plástico para conservar as nossas fotos em papel foi um erro que nossa civilização cometeu há várias décadas e que só agora começamos a nos dar conta disto. Outro fator que não ajuda em nada é a (estranha) predileção que sempre vi em prol da foto em papel brilhoso. Não só as fotos em papel brilhoso pegam mais facilmente marca de dedão (tipo as telas dos mais caros smartphones do momento - risos sarcásticos), como também são as que estão mais propensas a registrarem maior aderência dos plásticos dos álbuns em que guardamos as fotos. Motivos que aliás me levaram a eleger o papel fosco como o padrão para as fotos que eu mandava imprimir, enquanto ainda fazia isso. Lembro que das últimas fotos que fiz em câmera analógica, lá por 2002, só mandei revelar o negativo (quanto tempo eles duram, aliás?). 


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